ROMA, quarta-feira, 13 de junho de 2012
(ZENIT.org) - A seção litúrgica do Catecismo da Igreja Católica(CIC), dentro do parágrafo dedicado ao «Quando celebrar?», dedica algum
espaço para o «Ofício divino», hoje chamado «Liturgia das Horas»
(LdH). A LdH é parte integrante do Culto divino da Igreja, não um mero
apêndice dos sacramentos. É sagrada Liturgia no sentido verdadeiro e
próprio. Na LdH, como naquela sacramental (especialmente a Liturgia Eucarística,
da qual o Ofício é como que uma extensão), cruzam-se duas dinâmicas:
«do alto» e «do baixo».
Considerada «do alto», a LdH foi trazida
à terra pelo Verbo, quando encarnou-se para redimir-nos. Por isso o Ofício
divino define-se como «o hino que se canta no Céu por toda a eternidade»,
introduzido «no exílio terreno» pelo Verbo encarnado (cf. Pio XII, Mediator
Dei: EE 6/565; também: Concílio Vaticano II, Sacrosanctum
Concilium [SC], n. 83). Podemos cantar os louvores de Deus porque Deus
mesmo nos habilita a isso e nos ensina como fazê-lo. Neste primeiro significado,
a LdH representa a reprodução, obrada pela Igreja peregrina e militante,
do canto dos espíritos celestes e dos beatos, que formam a Igreja gloriosa
do Céu. É por esta razão que o lugar onde os monges, os frades e os
cónegos se reúnem para rezar o Ofício tomou o nome de «coro»: ele
quer reproduzir visivelmente as ordens angelicais e os coros dos santos,
que constantemente louvam a majestade de Deus (cf. Is 6,1-4; Ap 5,6-14).
Portanto, o coro está estruturado de forma circular não para facilitar
o olhar-se mutuamente enquanto se celebra a LdH, mas para representar
«o Céu que desce à terra» (Bento XVI, Sacramentum Caritatis,
n. 35), que ocorre quando se celebra o Culto divino.
Em segundo lugar, a LdH reflete uma dinâmica
que «de baixo» vai em direção «ao alto»: é um movimento com o
qual a Igreja terrena louva, adora, agradece o seu Senhor e lhe pede favores,
ao longo de todo o período do dia. A cada momento recebemos benefícios
do Senhor, por isso é justo que agradeçamos por eles a cada hora do dia.
É por isso que Santo Tomás de Aquino concebe a oração como um ato que,
pertencendo à virtude da religião, está relacionada à virtude da justiça
(cf. S. Th. II-II, 80, 1, 83, 3). Com o «Prefácio» da S. Missa,
podemos dizer que «na verdade, é justo e necessário, é nosso dever
e salvação» louvar o Senhor a cada momento do dia.
Primeiramente Cristo deu o exemplo de
incessante oração, dia e noite (cf. Mt 14,23; Mc 1,35; Hb 5,7). O
Senhor também recomendou orar sempre, sem nunca se cansar (cf. Lc 18,1).
Fiel às palavras e ao exemplo do seu Fundador (cf. 1 Ts 5,17; Ef 6,18),
desde a época apostólica a Igreja desenvolveu a própria oração cotidiana
segundo um ritmo ordenado que cobrisse toda a jornada, assumindo de forma
nova as práticas litúrgicas do templo de Jerusalém. É certo que as
duas horas canônicas principais (Laudes e Vésperas) surgiram também
com relação aos dois sacrifícios cotidianos do templo: o matutino e
o vespertino. Também as orações da Terceira, Sexta e Nona correspondem
a tantos outros momentos de orações da praxi judaica. No dia de Pentecostes,
os apóstolos estavam reunidos em oração na Hora Terceira (At 2,15).
São Pedro teve a visão da toalha de mesa que descia do céu, enquanto
estava em oração sobre um terraço pela Hora Sexta (cf. At
10,9). Em outra ocasião, Pedro e João subiam ao templo para rezar
na Hora Nona (cf. At 3,1). E não esqueçamos que Paulo e Silas,
fechados numa prisão, oravam cantando hinos a Deus por volta da meia-noite(cf. At 16,25).
Não é de admirar, então, que já no final
do I século, o Papa são Clemente conseguisse recordar: «Temos que fazer
com ordem tudo aquilo que o Senhor nos ordenou fazer durante os períodos
especificados. Ele nos prescreveu fazer as ofertas e as liturgias e não
de forma aleatória ou sem ordem, mas nas circunstâncias e horários estabelecidos»
(Aos Coríntios, XL, 1-2). A Didaquê (cf. VIII, 2) recomenda
recitar o Pai Nosso três vezes por dia, algo que atualmente a Igreja
faz nas Laudes, Vésperas e na S. Missa. Tertuliano interpreta assim tal
tradição antiga: «Nós rezamos, no mínimo, pelo menos três vezes por
dia, dado que somos devedores dos Três: do Pai, do Filho e do Espírito
Santo» (De oratione, XXV, 5). No Ocidente, o grande ordenador
do Ofício divino foi São Bento de Núrsia, que aperfeiçoou o uso anterior
da Igreja de Roma.
Do que foi dito, surgem pelo menos duas
considerações fundamentais. A primeira é que a LdH, já que essencialmente
cristocêntrica, é profundamente eclesial. Isto implica que, como Culto
público da Igreja, a LdH está fora da arbitrariedade do indivíduo e
é regulada pela hierarquia eclesiástica. Além disso, ela é uma leitura
eclesial da Sagrada Escritura, porque os salmos e as leituras bíblicas
são interpretadas pelos textos dos Padres, dos Doutores e dos Concílios,
como também das orações litúrgicas compostas pela Igreja mesma(cf.
CIC, 1177). Como Culto público, a LdH também tem um componente visível
e não apenas interno. Ela é a união de oração e gestos. Se
é verdade que «a mente tem que concordar com a voz» (cf. CIC,
1176), também é verdade que o Culto não se celebra somente com a
mente, mas também com o corpo (cf. S. Th. II-II , 81, 7). Por isso
a Liturgia inclui cantos, recitações verbais, gestos, genuflexões,
prostrações, inclinações, incensações, paramentos, etc. Isto
também se aplica ao Ofício divino. Além disso, o carácter eclesial
da LdH é tal que por sua natureza ela «está destinada a se tornar a
oração de todo o povo de Deus» (CIC, 1175). Neste sentido, se é verdade
que o Ofício pertence especialmente aos ministros sagrados e aos religiosos
– e a Igreja particularmente confia-lhes isso – sempre envolve toda
a Igreja: os fiéis leigos (tanto quanto lhes seja possível participar),
as almas do Purgatório, os beatos e os anjos nos seus diversos grupos.
Cantando os louvores de Deus, a Igreja terrena se une àquela celeste e
se prepara para alcançá-la. Assim, a LdH «é realmente a voz da mesma
Esposa que fala ao Esposo, ainda mais, é a oração de Cristo, com o seu
Corpo, ao Pai» (SC, n. 84, cit. no CIC, 1174).
Leitura Indicada pelo Padre José Antonio Tejada
fonte:www.zenit.org.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário